Carpe diem

Image : thaCaress

Nunca entendi muito bem esse negócio de Carpe Diem. Achava uma gracinha, mas não conseguia somente aproveitar o dia sem pensar no depois. Deve ser alguma coisa com signo... só pode. Essas revistinhas sempre falam que as aquarianas sempre tem a cabeça nas nuvens, no futuro... viu?! Esse comportamento nem era culpa minha, então não me julgue. Não muito.

Esse ao menos sempre foi meu jeito. Mas depois de quinta feira passada acho que muita coisa mudou em mim. E ainda me questiono se é normal. Se é bom. Ou conveniente.

Eu sei que deveria falar mais, me expressar mais , contar as coisas que sinto. Mas é meio complicado comigo. Não sou muito boa com palavras faladas. As escritas eu me viro, até acho que dá um certo charme, mas sei que coisas ditas olho no olho são mais claras. Dá pra ver o brilho.

Nos conhecemos a algum tempo. Alguns poucos anos. Amigo em comum, festa de faculdade, todo mundo bêbado, inclusive ele e eu. Eu estava na faculdade dele e como era vista como "carne nova"um monte de babaca vinha puxar papinho. Cada tipo... e eu me sentia um bichinho acuado, não conhecia ninguém além do meu amigo e essa festa não é necessariamente o tipo que gosto. Sou tímida demais pra sair socializando assim... até mesmo bêbada.

Surgiu do nada e me disse que também tinha gato. Percebeu pela minha mão, pelos pequenos arranhões dos meus bichanos. Assim como as dele. Ele não é o melhor amigo do meu amigo,nem fui apresentada a ele e os dois são até inimigos políticos na faculdade, mas eu o achei tão educado na sua conversa e interessante a abordagem que resolvi conversar. Percebi que também era tímido. Até chegou a dizer que estava se esforçando e nem sabe como teve coragem de chegar e me falar sobre gatos ( bebida? maybe...rs), mas que me olhou e viu como eu estava me sentindo pouco a vontade. Conversamos o resto da noite. E além de trocarmos telefone, email, orkut e msn nada mais aconteceu.

Conversávamos por email semanalmente. Ele sempre falando pouco. Eu o sentia vago em algumas conversas, até achava que não gostava de falar comigo , mas não falhava de me ligar no aniversário, no natal, ano novo e até na páscoa. Toda vez que eu ia pra SP a gente se encontrava ( era sempre um grupo) conversávamos e só. Ele soube dos meus namoros, por cima, claro. Eu soube de alguns dele. Por cima, claro.

Sempre achei uma gracinha a forma dele falar, as barberagens no trânsito e a desculpa que todo japonês é barbeiro. Gostava daquela cara amarrada quando nos acontecia o silêncio. E mesmo ele sendo assim estranho, gostava da companhia dele.

Aqui abro um parênteses

( Eu ando meio desiludida com os caras que saio. Tem o meu dedo podre clássico, mas ultimamente ando me superando. Ou os caras estão completamente sem noção. Eles devem achar que somos tolas e que não percebemos as reais intenções deles quando vem com aquele papinho mole. Acham que chamar a gente de gostosa e dar uns bons beijos na boca são o suficiente para a queda da calcinha. Pra algumas até são, mas pra mulher que tem um pouco de tutano na cabeça .... o empenho é maior! E daí eu percebia que meus últimos relacionamento estava se baseando nisso. Beijo, sexo, amasso, abraço e conversa só pra convencer a esticada pro ap. Conversas vagas.Acho que os homens estão meio de saco cheio de serem cavalheiros, esperar a hora certa. Não significa que só devem agir assim com as que pretendem namorar e sim, com todas as mulheres que eles saírem. Isso é ser um gentleman! E a chance do after é mais garantida. Homem que não entende isso quer meter a mão e a língua em qualquer lugar achando que isso - e só isso - acende uma mulher. Tolinhos! Cansei desse tipo!)

Aí acontece dele me falar todas aquelas coisas e eu pensar que eu também queria tudo aquilo. Mas tinha medo, por pensar demais no amanhã, por estar cansada de ser feita de trouxa, por não saber se queria fazer alguma coisa ( sabe aquelas neuroses?)

Mas quando ele chegou eu me senti segura. Me senti segura como a muito tempo não me sinto. Não é paixão. Não é tremer as pernas. Coração disparar. É sentir carinho. Desde o primeiro beijo tímido, um selinho. Seguido de um abraço com beijinho no rosto, na testa, nos olhos, na boca... aquele beijo querido. Sabe beijo querido? Garanto que as meninas aqui sabem, claro que sabem e também podem dizer o quanto é difícil ter um beijo assim.

Nesses dias me senti respeitada, importante, até passear no shopping (que eu ODEIO!) fico legal. A gente vivia aquilo como se nada mais existisse. A gente se bastava como se ninguém mais estivesse no mundo. Não é paixão. Nem amor. Juro que não é isso que sinto. É carinho, é segurança e ter certeza que estou realmente do lado de um homem que sabe tratar uma mulher.

Eu demorei pra escrever aqui porque estava tentando colocar minhas idéias em ordem. Foi tudo maravilhoso, mais do que eu esperava. Não falamos do que deixamos de fazer, não falamos do que queríamos fazer depois. Só vivemos. Carpe Diem...

Só na hora do embarque , depois de um beijo carinhoso...

- Quero ter mais disso.

E eu sorri. Só isso. Sorri. Sem mostrar os dentes nem nada. Assim. Feito uma idiota.

Eu também quero mais. Mas na hora tava tudo tão bom, que qualquer coisa que eu dissesse seria pior que aquele sorriso escroto, sem graça.

Cansei de fazer planos, cansei de apostar. Sei que é dessa forma que eu quero viver, que é assim que eu desejo ser tratada, mas tenho medo de estragar qualquer coisa planejando finais felizes.

Quero viver apenas. Os dias. O tempo que a gente tiver. Se vai continuar, não sei. Eu quero. Ele quer. Tem a distância, mas existem distâncias piores.

Carpe Diem... só agora entendo que viver assim também vale a pena.